A próxima quarta-feira (10 de dezembro) pode tornar-se um divisor de águas para os mercados financeiros.

Toda a gente está de olho nos 25 pontos base de corte de taxas da Fed — o mercado já tinha isto 100% descontado há muito tempo. Mas o verdadeiro foco não está aí, está em saber se Powell vai ou não anunciar, ao mesmo tempo, um programa de compra de dívida pública de curto prazo no valor de 45 mil milhões de dólares. Soa familiar? Pois é, uma versão mini do QE está a caminho de novo.

Tudo começou em outubro. Nessa altura, a Fed já tinha discretamente parado com o aperto quantitativo (QT), mas a liquidez do mercado continuava apertada. O buraco deixado pela novela do shutdown do governo tinha de ser tapado por alguém, caso contrário, o início de 2026 poderia ser um desastre económico. Por isso, desta vez não se trata de um extra, mas sim de uma medida de emergência.

O conselheiro económico da Casa Branca, Hassett, pintou recentemente um quadro cor-de-rosa: 2026 será "o ano dourado da história económica dos EUA". Acredita que um crescimento de 3% nem chega para este cenário, e lançou diretamente a meta dos 4%+. Claro, desde que "não haja cisnes negros" — como se os cisnes negros alguma vez dessem aviso prévio…

O mercado já começou a reagir. Os futuros das ações norte-americanas subiram 0,4%, o Nasdaq está a um triz do máximo histórico. Os juros da dívida a 10 anos dos EUA caíram para menos de 3,92%, e o dinheiro está a correr para ativos seguros. O índice do dólar disparou para 102, o renminbi pode ter de aguentar alguma pressão a curto prazo. O BCE também já está inquieto, e a probabilidade de seguir com cortes de taxas também está a aumentar rapidamente.

Os mercados emergentes tiveram uma breve euforia — afinal, quando a liquidez em dólares alivia, o capital especulativo começa a sair. Mas não festejem demasiado cedo, porque o fantasma da inflação está a despertar. Deitar dinheiro na economia sabe bem, mas ninguém escapa às consequências.

Para o mercado cripto, esta jogada é uma faca de dois gumes. Em teoria, liquidez mais folgada favorece BTC e ETH e outros ativos de risco, mas se as expectativas de inflação se descontrolarem, o sentimento de aversão ao risco pode acabar por penalizar o preço das criptomoedas. Por isso, discutir agora se "o bull market continua" ou se "já vimos o topo e vem correção" só depois da conferência de imprensa da próxima quarta-feira.

Hassett pinta a era dourada no palco, Powell prepara-se nos bastidores para abrir as torneiras. Será 2026 uma verdadeira prosperidade ou uma grande bolha? A resposta pode estar escondida nesses 45 mil milhões de dólares. Para a semana, saberemos.