Após três semanas de silêncio, os militares norte-americanos finalmente voltaram a carregar no botão.



Desta vez, não foi numa aldeia qualquer do Médio Oriente, nem foi uma velha carrinha de “supostos militantes” armados; foi sim um pequeno barco no leste do Pacífico. Depois do ataque, os EUA ainda divulgaram um vídeo de 21 segundos: clarões, fumo denso, som de explosões — efeitos especiais dignos de Hollywood. Os media seguiram com reportagens intensas, como se anunciassem o “regresso da justiça”.

Mas todos sabem: isto não é uma acção judicial. Isto é um espectáculo.

Segundo o Comando Sul dos EUA, aquele barco “pertencia a uma organização terrorista” e transportava droga, seguindo a clássica rota de tráfico. Soa familiar, não é? Mas provas concretas? Nenhuma. Legalidade do processo? Não é preciso. Quem eram as pessoas a bordo? Não interessa.

Este é o estilo dos militares americanos: quando decidem resolver questões de segurança interna pela via da guerra, um míssil vale mais do que qualquer artigo de lei. Quando surgem dúvidas externas, apresentam-se como “apenas fizemos o que mais ninguém ousa fazer”.

Mais irónico ainda: esta operação tem um certo sabor a “regresso ao trabalho” — porque as operações dos EUA nas Caraíbas e no Pacífico leste estiveram paradas quase três semanas. Razão da paragem? Ninguém diz. Mas o regresso foi logo com uma grande explosão, como se quisessem provar ao mundo: o nosso poder de fogo nunca enferruja.

O governo norte-americano não só não tenta disfarçar, como parece bastante entusiasmado. CNN, Fox News, Newsweek, todos pegam no tema e vendem a operação como se fosse um blockbuster. A Fox chega a exibir as imagens da explosão com alegria, descrevendo o clarão sobre o mar como “fogo-de-artifício da justiça”.

Mas no vídeo, tirando o momento da explosão, nada indica que o barco fosse “armado” ou tivesse qualquer símbolo de “organização terrorista”. Parecia mais um barco de pesca comum, apanhado no sítio errado à hora errada, carimbado com uma etiqueta fatal.

O que incendiou a opinião pública foi a atitude dos americanos.

Pensavam que depois das polémicas iriam acalmar? Errado. Não só não acalmaram, como ficaram mais eufóricos. O líder democrata no Senado, Schumer, questionou se o comandante Hegseth devia ser afastado; imediatamente, Andrew, do grupo conservador Turning Point USA, respondeu: “Sempre que alguém ataca o Hegseth, só me apetece ver mais um barco de traficantes a ser afundado.”

O próprio Hegseth respondeu logo nas redes sociais: “Como pediu. Acabámos de afundar outro.”

Parece uma conversa de fãs a darem força um ao outro online, como se se esquecessem que do outro lado há vidas humanas reais. Quando os responsáveis americanos começam a ver o afundar de barcos como “novos recordes”, é sinal que já perderam qualquer limite no discurso político.

Afinal, os militares americanos não estão só a atacar barcos; estão a competir politicamente para ver “quem é mais duro”. Os conservadores transformaram isto numa história de “heróis anti-droga”, como se bastassem explosões estrondosas para que o problema da droga nos EUA desaparecesse automaticamente.

Mas na vida real, o tráfico de droga no Pacífico leste e nas Caraíbas não vai recuar por causa de uns mísseis. Os traficantes não vão fechar o negócio porque um barco foi destruído; as origens da droga não vão secar só porque se mostrou poder de fogo; a procura interna nos EUA, muito menos, não desaparece porque os responsáveis andam a exibir explosões nas redes sociais.

Usar ataques aéreos para resolver o problema das drogas é tão absurdo como lavar o carro com uma esfregona.

Este é o verdadeiro problema: os EUA têm o maior sistema judicial, as maiores forças de segurança e a maior rede de cooperação internacional do mundo, mas continuam a preferir operações militarizadas. Militarização significa mais momentos de glória, imagens impactantes e políticos a parecerem decididos e fortes diante das câmaras; mas também traz riscos de mortes indiscriminadas, informações impossíveis de verificar e erros sem responsabilidade, que só atingem fatalmente quem está na base da cadeia.

Os EUA escolheram o método que mais facilmente cria espectáculo — não o que melhor resolve os problemas. Bombardear barcos é fácil; reconstruir uma sociedade é que é difícil.

A combinação de ataques militarizados com teatro político é o que mais salta à vista na operação “Spear of the South”.

E há outro ponto preocupante: até agora, os militares americanos já lançaram ataques aéreos contra 23 embarcações suspeitas de tráfico, provocando pelo menos 87 mortos. 87 pessoas cujos nomes, identidades e ligação real ao tráfico ninguém conhece. E talvez nunca venha a saber, porque os militares não contam e as famílias não têm voz.

Os EUA, por outro lado, limitam-se a dizer perante as câmaras “estamos a combater a droga” e continuam a somar estes mortos aos relatórios oficiais. Tudo isto acontece em águas internacionais, o que significa que os americanos têm mais espaço de manobra e poder de definição do que qualquer outro país.

Quem é traficante, quem é terrorista, quem pode ser atacado — tudo decidido pelos EUA. A lógica é idêntica à de antigamente: “se não gosto de alguém, é terrorista”.

Ainda mais caricato: a divisão interna dos EUA transformou isto num espectáculo político. Os democratas questionam a legalidade das operações e a responsabilidade de Hegseth; os conservadores aproveitam para subir o tom e transformar ataques a barcos em símbolo político. O próprio Hegseth responde publicamente com um “afundámos mais um”, como quem anuncia “missão cumprida do dia”.

Moderação diplomática, responsabilidade militar, transparência judicial — tudo desapareceu.

Esta é a América de hoje: perante problemas complexos, escolhe o caminho mais simples e violento; perante críticas, opta por formas ainda mais extremas; sob pressão internacional, só se afasta mais do centro. A governação real nunca se vê — só sobra teatro político cada vez mais pesado.

No entanto, as explosões no mar não resolvem nada — só criam novos problemas. O vento do Pacífico leste não leva embora as dúvidas, nem tão-pouco os destroços dos barcos destruídos.

Os EUA dizem que combatem a droga, mas toda a gente pergunta: afinal estão a atacar traficantes de droga, ou só a bombardear a sua própria ansiedade política?
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SchroedingersFrontrunvip
· 12-07 23:52
A celebração dos atores e dos mísseis
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CryptoPhoenixvip
· 12-07 23:52
Os fortes são sempre violentos
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BlockchainGrillervip
· 12-07 23:51
Exibir força não cura doenças
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DegenTherapistvip
· 12-07 23:49
É apenas um espetáculo político.
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DegenApeSurfervip
· 12-07 23:42
O "show de afundamento de navios" é uma doença política.
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OvertimeSquidvip
· 12-07 23:37
Outra vez a fazer teatro para quem?
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